Sobre o abuso sexual (a propósito desta história do CR7)

Vivi quatro anos no leste europeu. Antes de ter vivido nessa zona, vivi cerca dois anos numa das cidades mais bonitas do mundo: Barcelona.

Antes de viver em Barcelona, o meu contacto com clubs noturnos era muito pouco. Pouquinho mesmo. Festas académicas, noites da Mulher na disco cá da cidade, onde boa parte da malta se conhecia da universidade. E nesse tipo de experiências aprendi a avaliar os comportamentos de homens e mulheres que partilhavam o mesmo espaço nocturno comigo. Sabia quem estava ali porque foi obrigado, quem estava bebedo, quem se queria divertir, quem estava no engate, quem estava ali para sexo e nada mais. E na minha mente puritana, reprovava comportamentos lascivos e altamente provocativos, tudo porque o que queria mesmo era dançar. 

Em Barcelona, por incrível que pareça, no auge dos meus 20' e poucos anos, fui poucas vezes para espaços noturnos. Afinal de contas, eu era uma trabalhadora que acordava as 6h da manhã quase todos os dias e que gostava de adormecer com um romance no peito.

Daí que, quando me mudei para o leste, estava um bocadinho enferrujada de discos. 
Mas como era imperativo o convívio social, que passava muito por umas idas à disco onde paravam os estudantes estrangeiros da cidade, tive que de imediato desenferrujar.



A mulher do leste Europeu é uma mulher que por norma é provocante e sedutora. É alta e esguia, tal corpo de modelo. Vive muito para aparência, bem ao contrario do perfil feminino da mulher portuguesa. Desde logo começam a recauchutar mamas, foram as primeiras mulheres que vi com microblanding. As unhas de gel terão que ser o mais espampanante possível. São verdadeiras bonecas de saltos altos, micro minissaias, tatoos e maquilhagem irrepreensível. 
Tudo isto porque têm um bom objectivo: casar o mais depressa e o melhor possível. É esta a filosofia delas. Não critico. 
Portanto, todo este tipo de comportamento sedutor, fazia as delícias dos meus colegas de países mais conservadores, nomeadamente de países islâmicos, africanos e europeus até. E esse tipo de abordagem delas foi motivo de muita pancadaria entre os compatriotas destas jovens contra estrangeiros como eu e outros colegas, tal a atitude ciumenta e possessiva deles.


Já os seus compatriotas achavam as estrangeiras umas cafonas. Tentavam meter-se connosco e nós mandávamos pregar a outra freguesia. E isso enfurecia-os e ao mesmo tempo os deixava encantados com aquela resistência feminina.  

Tudo aquilo era um ritual estranho.

Topavam que estava na pista de dança um grupo de estrangeiros, elas aproximavam-se de nós e com um inglês manhoso perguntava aos rapazes como se chamavam, de onde vinham, o que estudavam, em que zona da cidade moravam. Perguntavam se lhe podiam oferecer uma vodka em troca de um beijo.  Ou de um broxe no WC. Ou então (se morassem perto da disco), de uma queca. E se quiserem até podem levar à amiga que está junto dela. E alguns colegas meus aceitavam uma ou duas ou todas essas opções. Sem remorsos. "Ela é que pediu".

E como cavalheiros que eram, muitas vezes voltavam à disco ainda na própria noite, depois de lhe pagarem o taxi que as levaria às suas respectivas casas. E quantas e quantas vezes eu ouvi detalhes sobre o que ela berrava quando ele a fez vir, o quão boas eram na cama.

São elas putas? Não. Não foram pagas para isso. Eram, na maioria, colegas da minha faculdade ou de outras faculdades. Estudantes de Enfermagem, de Dentária, de Direito, de Veterinaria, de Arquitectura. Colegas que na segunda feira seguinte, passam por nós e dizem-nos "Hi!", com um sorrisinho. E claro, havia as cabeleireiras, as que trabalhavam no restaurante...

Jovens que cujo o objectivo é talvez que algum estrangeiro as tire daquele país e as levem para o país deles onde elas possam ser apresentadas às famílias, como mulheres deslumbrantes, castas e puras. Se engravidassem seria então perfeito para prender mesmo. E até lá, o seu jogo será de tentativa-erro nem que fodam com todos os estrangeiros e estrangeiras da cidade. Isto, disse-me uma dessas jovens quando convidei para tomar um chá numa tarde de neve de Janeiro para que pudesse perceber um pouco o que lhes passava nas suas cabecinhas. 

Nunca ninguém ouviu falar de alguma delas se ter queixado na Polícia que foram violadas. Nunca ouvi falar de alguma que tenham exigido alguma coisa de alguém. A sua privacidade foi sempre posta em causa, porque muitos detalhes de como eram e como fizeram na cama, logo logo eram postos na boca do Mundo. 
E eram tratadas como putas por alguns colegas meus. Colegas que daí a umas semanas se tornariam profissionais na área em que estudaram, maioria deles na área da Saúde.

Ainda mantenho contacto com alguns desses colegas. Alguns deles ainda defendem que se Portugal está como está, é porque só uma minoria das portuguesas têm uma atitude como aquelas jovens que eles conheceram quando estudaram lá. 
"Mulher portuguesa deveria ser mais depilada e mais fácil", dizem. 

O assédio existe e não é só do homem para uma mulher. No país onde eu vivi 4 anos inesquecíveis, o homem não precisava assediar ninguém. Elas próprias se autoassediavam, assediavam a eles. Eram as verdadeiras jogadoras no jogo da sedução. Uns dias ganhavam, outros dias perdiam

No entanto, são talvez mais dignas que aparentes putéfias do Nevada. 

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