11. Carta

Caro gajo estranho com quem troquei saliva no final do Verão,

Se calhar não és assim tão estranho. Afinal já nos conhecemos há alguns anos. Trocamos bitaites pelo facebook. Já te amiguei por lá e já te desamiguei. Mas pronto, agora estamos de volta à fase "amigos no facebook" novamente.

Então é o seguinte: nunca te quiseste encontrar comigo pessoalmente antes. Dizias que te intimidava e como tal não te querias sentir intimidado por uma mulher como eu. Eu pensava "ya, ok. Sou uma gaja além de linda, sou intimidante. Vou levar isto como um elogio". Dizias que te sentias melhor com gajas vulgares e ordinárias, as tuas Sheilas e as tuas Carinas do que propriamente com gajas como "A GAJA" (eu). E eu pensava "Ya, ok. Deves ser um matarruano vulgar, um frustradozeco de pila minúscula, fica lá com as tuas Sheilas ou o caralho".

Mas ficaste todo contente e todo disponível para me arranjasses umas amostras de pastas de dentes, não fosses tu um Sr. Dr. Dentista. "Oh sim, Gaja, quantas precisas? Tenho muitas e quero tomar café contigo antes de ir para Macau"- disseste-me. 
Eu lá disse que precisava de algumas para mim e para o pessoal que vai na viagem comigo e como são amostras, os tipos do aeroporto não iriam por-se com merdas se eu levasse unidades pequenas. 

O café foi marcado na tua cidade. E tivemos uma conversa muito animada. Tu volta e meia trocavas mensagens com coraçõezinhos com a tua sobrinha teenager (a quem provavelmente contaste que irias tomar café com uma mulher intimidante, aposto), eu troquei umas mensagens com o povo para avisar que "habemos dentífricos colgate para a viagem" e pronto... guardamos os telemoveis.

Falaste entusiasticamente sobre a tua vidinha em Macau, do facto de estares a abdicar da tua vida familiar em Portugal, eu falei dos meus projectos de trabalho, da minha futura grande viagem com amigos e tal... Tipo, uma conversa de gente crescida, não intimidante. Uma conversa agradável.
Na hora de eu chegar ao carro, aproximaste de mim e deste daqueles beijos de cinema. E não foi um ou dois: foram vários. E como estavas todo colado a mim estava a sentir claramente que estavas c' a tusa . Educadamente sugeri para que fosses procurar as Sheilas Carinas da vida dele, que de mim não levavas nada. 
Não estava com a mínima vontade de estar contigo, de trocar beijos contigo. Não senti absolutamente nada. Beijava-te e tocava-te no rosto maquinalmente, como boa atriz que se calhar sou. E tu com uma grande tusa.
Quando entrei no meu carro, vieste a correr e sentaste-te no banco do passageiro. Mais uma vez beijamos-nos, tu com toda a paixão e eu... maquinalmente.
Mas a coisa culminou mesmo, quando sem mais nem menos, com toda a coragem do mundo, encheste e desencheste o peito com um suspiro e sussurraste-me ao ouvido:

- FAZ-ME UM BICO.

Eu olhei para ti com o ar mais incrédulo do mundo. E gargalhei. Oh Deus, se não explodi com uma verdadeira gargalhada. E tu riste-te comigo. E ficas-te muito sério  quando a minha expressão ainda ficou mais séria  te sussurrei ao ouvido

- SAI IMEDIATAMENTE DO MEU CARRO!

E tu saiste. E quando cheguei a casa tinha uma mensagem tua a perguntar se tinha chegado bem. Eu respondi que tinha acabado de chegar. Tu remataste com uma mensagem de "Gostei de estar contigo. Vemos-nos no Natal". Respondi-te um seco "lol". 


Onde quero chegar com isto: que os meus palpites estavam certos. Não passas de um frustradeco com uma pila minúscula (yep... deu para sentir isso). E sim, és um matarruaninho que mesmo eu estando de sabrinas, sou mais alta que tu. Posso ser intimidante para ti (não duvido), mas para mim tu foste uma autêntica Sheila Carina, um gajo muito fácil e oridnário baixo.
Pedir-me para fazer-lhe um bico ao fim de 1h de café e 5 minutos de pseudo amassos no meu Mini Cooper? Pffffff Que se foda o romantismo!








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